Por Braulio Lalau de Carvalho(*)
Peter Drucker, um dos pais da administração moderna, tem uma frase extremamente paradigmática e fundamental para entendermos as relações entre o meio empresarial e a tecnologia:
“Inovação é atribuir novas capacidades aos recursos (pessoas e processos) existentes na empresa para gerar riqueza.”
Drucker sintetiza uma reflexão interessante que pode ser direcionada para o gerenciamento de pessoas e que fornece o norte deste artigo. O centro deste insight diz que inovar não significa substituir material humano, mas sim, atribuir aos seus colaboradores novas demandas e desafios em prol do crescimento da uma organização.
Ao longo do texto, nos aprofundaremos neste tema, tomando como exemplo quatro tendências de destaque da tecnologia. Acompanhem!
Os benefícios da inovação para a sociedade e as mudanças no mercado de trabalho
Estamos tão submersos em um universo envolto por tecnologia, que por vezes nos esquecemos dos benefícios que ela traz para as nossas vidas. Imagine viver sem energia elétrica, computadores, internet ou telefones móveis, por exemplo.
Pode até ser divertido para uma aventura de poucos dias, mas, a longo prazo, acabamos percebendo o quanto ganhamos com as possibilidades que a conectividade, a mobilidade, o mundo digital e os bens tecnológicos como um todo nos oferecem.
No plano empresarial acontece coisa semelhante. Apenas para elucidar alguns casos, há não muito tempo, departamentos financeiros eram reféns de um sem número de papéis e planilhas, fator que gerava altos índices de retrabalho e perda de produtividade.
Gestão de trabalho em rede ou à distância era coisa impensável, favorecendo o isolamento de departamentos e a consequente falta de comunicação. Informações sobre consumidores eram espalhadas entre diferentes fontes, o que tornava a assertividade de campanhas de marketing ou de vendas algo consideravelmente mais complexo.
Vale pensar ainda no conceito das cidades inteligentes. A inovação deve fazer parte da gestão pública, visto que permite, dentre outros pontos, um melhor uso dos recursos naturais, um aumento da segurança por meio de sistemas inteligentes de monitoramento, a redução de gastos públicos através da otimização de atividades antes exclusivamente manuais e até a desburocratização e uma maior agilidade na gestão de serviços e entrega de benefícios para a população.
Tudo isso nos ajuda a demonstrar que, sim, quando bem utilizada, a tecnologia é uma aliada da sociedade.
Ao mesmo tempo, de modo paradoxal, quando falamos de tendências e previsões de futuro, muitas pessoas tendem a se assustar com o novo. O que acontecerá com meu emprego? Serei substituído por uma máquina? Como serão geridas as novas relações de trabalho? São algumas das perguntas que se fazem quando leem alguma manchete sobre os avanços em inteligência artificial ou nos processos de automação.
Esta sensação de insegurança é previsível e ocorreu em outros momentos históricos, como na primeira revolução industrial das máquinas a vapor e do estabelecimento das grandes indústrias, ou quando vimos a popularização dos computadores pessoais, da internet, dos sistemas digitais. E, embora alguns mercados tenham se reduzido ou se tornado obsoletos mediante o impacto da tecnologia, em paralelo, outros surgiram, dando oportunidade para pessoas desenvolverem novos conhecimentos e trabalhar em conjunto com o progresso social.
A verdade é que, em se tratando do mercado de trabalho, a tecnologia nos força a sair de nossa zona de conforto, algo que, em última instância é extremamente positivo, pois passamos a valorizar virtudes como a criatividade, a originalidade e o espírito empreendedor.
A tecnologia nos força a sair de nossa zona de conforto!
O principal desafio para quem deseja acompanhar a inovação
A principal base para quem deseja acompanhar os rumos da inovação é o interesse constante por conhecimento. Vivemos em uma economia centrada no dinamismo e no diálogo entre múltiplos saberes. Aqueles que souberem se adaptar a este novo contexto, ampliando seus campos de saber e adotando uma mentalidade inovadora e criativa, certamente, tem tudo para ter sucesso diante deste cenário de quarta revolução industrial.
Além disso, é importante deixar claro que, se antes o foco das empresas era o de oferecer um produto final, acabado, para os consumidores, hoje, sobretudo no universo da tecnologia, o que se busca é a oferta de experiências significativas, uma vez que os sistemas e as ferramentas disponíveis no mercado se renovam, sempre em prol de uma experiência de uso que seja satisfatória para os clientes.
O impacto da tecnologia na gestão de pessoas
Conforme avança a tecnologia, os modelos de gestão de pessoas também vão se modernizando, tornando-se mais eficientes e sempre visando extrair o melhor de cada colaborador de uma empresa. Pensando nisso, separei quatro tendências tecnológicas fortes do mercado, para comentar como a inovação se relaciona com os processos de liderança de equipes e gerenciamento do capital humano.
IoT
Sensores para monitoramento de condições de voo, soluções logísticas para controle de tráfego, dispositivos para gestão de equipes a distância, sistemas eletrônicos de ponto, sensores de movimento e biometria para segurança. Esta é apenas fração de soluções conhecidas que provam o quanto nós já vivemos em uma realidade em que a internet das coisas se faz presente mais do que nunca e isso engloba tanto o mundo corporativo quanto o dia a dia dos cidadãos.
De acordo com pesquisas da Gartner, a cada segundo, 65 dispositivos novos se conectam a internet. E a tendência, sem dúvidas, é que os objetos que se conectam a internet e comunicam-se em rede se difundam ainda mais. O grande desafio das empresas é saber gerir toda essa inovação, para que as equipes de um negócio tragam ideias realmente aplicáveis.
Além disso, os gestores precisaram se concentrar no desenvolvimento de mão de obra altamente especializada, uma vez que as atividades mais básicas do dia a dia tendem a ser automatizadas. Por fim, é preciso que se desenvolvam controles e parametrizações, tanto para o controle de custos, quanto para a redução de falhas no desenvolvimento dos dispositivos.
Mobile
As soluções mobile fazem parte do universo do IoT, mas merecem um destaque especial porque o conceito de mobilidade é um dos principais motores da sociedade contemporânea e os impactos desta ideia são imensos para a gestão de pessoas. Quem diria, por exemplo, que seria possível gerenciar equipes à distância através de um smartphone e ferramentas de geolocalização?
Vale dizer ainda que as soluções mais inovadoras para o acompanhamento de métricas e indicadores de equipe podem ser acessadas através de dispositivos mobile, fato este que oferece maior dinâmica para os processos de gestão.
Mundo Digital
Quando falamos de digital, estamos nos referindo a todo o desenvolvimento de soluções voltadas para levar ao ambiente digital, a internet, processos que antes eram realizados exclusivamente por meio de processos manuais, no mundo físico.
No ambiente de negócios, a transformação digital gerou uma revolução imensa, com a otimização de uma série de atividades e a redução de custos em todos os departamentos de uma empresa. Atualmente, vemos um verdadeiro movimento de empresas que direcionam esforços tanto para criar quanto para entender a experiência de consumidores no meio digital, extraindo dados de clientes por meio de plataformas multicanais que auxiliam, por exemplo, no desenvolvimento de estratégias de marketing ou de melhorias no atendimento.
No plano do gerenciamento de equipes, a experiência digital dá aos gestores múltiplas possibilidades que vão desde um maior controle da qualidade do trabalho dos colaboradores até a possibilidade de integrar funcionários em redes corporativas, fator que favorece o desenvolvimento de projetos em conjunto.
Cloud Computing
Há poucas décadas iniciamos a revolução “paperless”, com as planilhas sendo substituídas por sofisticados sistemas de ERP que concentravam todas as informações gerenciais de um negócio em uma única plataforma. Com a nuvem, nós vemos a substituição das dispendiosas estruturas de data centers, por soluções concentradas no ambiente digital.
De acordo com relatório recente da Gartner, a expectativa é que as empresas migrem, de modo cada vez mais maciço para o Cloud, dando vazão para a ideia de que, em um futuro próximo, boa parte do gerenciamento de um negócio – incluindo do capital humano – será feito através do ambiente digital.
Remando para o futuro
Concluo este artigo com o mesmo pensador que deu start a nossa reflexão. Peter Drucker dizia que “as empresas inovadoras não gastam esforços para defender o passado.” O que temos aqui é uma constatação firme, mas verdadeira: se a sua companhia busca os caminhos da criatividade e da inovação, não há porque temer o futuro. Esteja pronto!
(*) Braulio Lalau de Carvalho é CEO da Orbitall, empresa do Grupo Stefanini
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