Por Cristina Randazzo*
Quando eu era criança, admirava a dedicação da minha mãe pelos cuidados com a casa e com os filhos. Mas eu sabia que queria um caminho diferente. Bem diferente. Escolhi uma carreira que, na época, não era encarada como uma possibilidade feminina.
Iniciei minha vida profissional em dois caminhos paralelos, ambos quando eu ainda estava na faculdade de Ciência da Computação. O primeiro deles foi abrir uma empresa de treinamento de informática. Naquela época as pessoas ainda procuravam uma escola para aprender Windows, Word, Excel, etc.
Quase simultaneamente, fui convidada por um professor da universidade para participar de um projeto de desenvolvimento de aplicações geoespaciais na plataforma do AutoCAD. Foi assim que entrei no mundo Autodesk.
Desde essa época, e lá se vão muitos anos, por muitas vezes fui a única mulher na sala. Seja em uma reunião interna, em um treinamento, ou em uma reunião com o cliente, a maioria esmagadora dos presentes eram sempre homens.
No início, estava tão absorvida por questões técnicas do trabalho que não me dava conta de como o sexismo era presente. Com o tempo fui vivenciando situações que mostravam a disparidade entre o mundo masculino e feminino no ambiente de trabalho, desde situações sutis como até outras que considerei grosserias e escancaradas.
Uma situação até engraçada pela qual passei foi em um café com um funcionário recém-contratado. Depois que paguei a conta ele comentou: “a única mulher que pagou minha conta até hoje foi minha mãe”.
Recentemente em uma reunião um dos participantes contou uma piada extremamente machista. Não fiz nada na ocasião e me odiei por isso. Acho que um grande aprendizado neste episódio é que nós mulheres temos que nos posicionar. Com educação, claro, mas devemos deixar claro quando um comportamento ultrapassa algum limite.
Outra coisa que aprendi na experiência de ser “a única mulher na sala” é que a gente deve desenvolver a autoconfiança. Não somos menos que ninguém. Nem mais. Somos iguais.
A forma como se encara o tema “diversidade” ainda é muito diferente na América Latina do que vemos nos Estados Unidos, por exemplo. Ainda temos um longo caminho a percorrer. Vejo aqui na Autodesk, onde trabalho, que estamos dando um importante passo desde 2015 no sentido de ampliar a diversidade, ao ser criado uma posição de Global Diversity & Inclusion. A partir daí este assunto começou a ser amplamente discutido na empresa e agora posso afirmar que está sendo construída de maneira muito positiva uma consciência sobre a importância da diversidade e inclusão.
Com esse exemplo, me motivei ainda mais e aproveitei a oportunidade para liderar uma iniciativa na América Latina, o programa AWiL, de liderança feminina. A ideia é promover discussões e treinamentos que possam ser úteis para as mulheres que fazem parte da nossa empresa e assim construirmos uma cultura de igualdade. É um longo caminho, mas estamos no sentido certo.
* Cristina Randazzo é líder do time de especialistas técnicos da Autodesk para América Latina.
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