Por Alexandre Salema
Com tantas inovações acontecendo, é preciso olhar para o futuro como uma bússola, no sentido de nos orientar ao melhor caminho para os negócios. Algumas empresas ainda têm dificuldade em abrir mão de certos valores e crenças, o que as mantêm aprisionadas ao passado. Essa inércia abre espaço para que os inovadores lancem-se à frente, provocando uma revolução no mercado.
Plataformas de negócios como Uber, AirBnb e Netflix, por exemplo, chegaram para mudar a regra do jogo. Enquanto a empresa tradicional foca em atividades que, através de uma cadeia de valor, entrega um produto ou um serviço para o cliente, o modelo de negócios baseado em tecnologia e mobilidade conecta participantes em um ecossistema que gera valor para ambos os lados.
Os exemplos clássicos desse modelo são a Uber, plataforma que conecta motoristas a pessoas que precisam de transporte privado sob demanda e a AirBnb, que conecta hóspedes a donos de imóveis disponíveis para hospedagem. Ambos impactaram fortemente seus mercados em todos os países em que atuam.
Pouco a pouco, modelos de negócios baseados em plataformas atingem outras indústrias, inclusive no segmento de seguros, onde grandes companhias ainda resistem à mudança de processos e determinam um ritmo naturalmente mais conservador. Mas as inovações de caráter disruptivo também alcançaram este setor por meio das Insurtechs, startups que unem o mercado de seguros aos benefícios da tecnologia, apresentando novos modelos de negócios para as seguradoras.
A grande questão é: as empresas líderes do mercado segurador estão observando esse movimento com a atenção devida? Estão de alguma forma preparando-se e colocando-se em posição para ditar essa mudança ou assistem de forma passiva a chegada dessas inovações?
Toda plataforma de negócio bem sucedida surge a partir de uma dor e no segmento de seguros isso não é diferente. Estamos falando sobre um segmento que atua sob regulação de mercado e que depende sempre de um intermediário para relacionar-se com o cliente, entre outras complexidades.
Para abraçar esse caminho da inovação apontado pelas Insurtechs será preciso superar grandes desafios. Na questão da regulação, hoje o Susep é responsável pelo controle e fiscalização do setor de seguros, previdência privada aberta, capitalização e resseguro e suas regras precisariam ser revistas para que as plataformas pudessem atuar. Por outro lado, as grandes companhias do segmento, certamente resistirão a qualquer mudança que possam impactá-las, assim como acontece hoje com os taxistas e o Uber e seus concorrentes.
No entanto, o fato do mercado de seguros hoje precisar da figura do intermediário para gerir muitos processos, pode impulsionar o uso da plataforma, facilitando a interface com o cliente. Uma insurtech poderia inovar e desenvolver uma plataforma para agilizar a comunicação entre seguradoras e clientes.
Também no que tange a regulação de sinistros, o modelo de insurtech é capaz de desenvolver uma plataforma para permitir a intermediação de seguradoras e reguladores de sinistro. Hoje, as reguladoras atuam em conjunto com as seguradoras, entretanto, é preciso que se restrinjam apenas à regulação. Por meio de uma plataforma de negócios, as seguradoras enviariam o sinistro para que um regulador pudesse atuar. Pode ser que as seguradoras não sintam-se confortáveis e seguras ao passar um sinistro diretamente para o regulador, já que o modelo atual exige um contrato que garante a qualidade do serviço das reguladoras. Mas, o processo de disrupção passa pela quebra de paradigmas.
No modelo das plataformas, que valoriza a pontuação do serviço prestado, acontece uma seleção natural de players. Os profissionais que prestam serviços medianos ou ruins são excluídos do processo. É assim que já funciona na Uber, AirBnb e em outras plataformas. Os benefícios também serão percebidos de forma mais acentuada na diminuição dos custos dos serviços, à medida que a plataforma cria um processo mais leve e menos dispendioso, comparado a uma grande empresa.
É fato que as mudanças acontecerão. Agora cabe às empresas optarem por definir essas transformações e serem protagonistas ou ficarem em uma posição arriscada, como meros observadores.
Alexandre Salema é Gerente Executivo da Provider IT
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