Reduzir a incidência de erros causados por medicação é uma preocupação global. A OMS (Organização Mundial da Saúde) lançou recentemente uma campanha (Global Patient Safety Challenge on Medication Safety) visando dirimir em 50%, nos próximos cinco anos, os danos graves e evitáveis associados a medicamentos, em todos os países do globo. No Brasil, estima-se que das 35 milhões de indicações medicamentosas que ocorrem por mês em âmbito nacional, até 75% delas estejam sujeitas a erros. Os impactos dos eventos adversos ocorrem em diversas esferas, tanto do ponto de vista clínico como financeiro, e em pacientes das mais diversas idades. No entanto, em pacientes pediátricos portadores de patologias crônicas, como o câncer, isso se torna ainda mais crítico. Qualquer erro de dosagem, associação indevida de quimioterápicos ou mesmo uma interação medicamentosa, tem uma implicação muito mais avassaladora em sua saúde.

E foi exatamente com o objetivo de prevenir a incidência de erros por prescrição de medicamentos em instituições públicas de saúde brasileiras, que a Wolters Kluwer, líder mundial para a indústria de saúde no fornecimento de soluções e informações para o momento de cuidados ao paciente; e a Salux, empresa brasileira que fornece ferramentas de sistema de gestão hospitalar, acabam de firmar uma parceria com a Pró-Saúde Associação Beneficente de Assistência Social e Hospitalar, uma das maiores entidades de gestão de serviços de saúde e administração hospitalar do País. O projeto está sendo iniciado no Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo, localizado em Belém, mantido pelo Governo do Estado do Pará e onde, entre janeiro de 2016 a abril 2017, foram realizados cerca de 8 mil consultas ambulatoriais; mais de 35 mil infusões quimioterápicas; 644 cirurgias; além de um volume total de mais 25 mil atendimentos. A instituição é primeira na esfera pública do Brasil a incorporar ao seu sistema de prontuário eletrônico do paciente (PEP) da Salux, o Medi-Span®, sistema de suporte à decisão de prescrição de medicamentos da Wolters Kluwer.

“A nova tecnologia vai permitir que a Pró-Saúde amplie a assertividade durante a assistência aos pacientes ao oferecer um avançado suporte ao corpo clínico durante a prescrição de medicamentos e, também, promove um uso mais eficiente dos recursos financeiros. Trata-se de uma experiência que poderá, inclusive, ser compartilhada com outras Unidades do País, que dependem de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS). Essa união de expertises certamente resultará em ganhos de qualidade para o paciente”, enfatiza Jocelmo Pablo Mews, diretor de Operações da Pró-Saúde.

De acordo com Fernando Paragó, consultor médico corporativo em Segurança do Paciente, da Pró-Saúde, assim como nos demais hospitais administrados pela instituição, o Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo dispõe de um núcleo para gestão de riscos, que acompanha inclusive a incidência de erros médicos por eventos adversos. Até pelo próprio nível de especificidade e criticidade dos pacientes do hospital, os profissionais de saúde envolvidos com esse núcleo já há algum tempo observam um aumento no volume destes tipos de incidentes, o que os leva a estimar que cerca de 75% estão associados à prescrição de medicamentos, especialmente na decisão de dosagem. “O próprio potencial de risco e a necessidade de mitigá-lo foram os impulsionadores para que o projeto começasse nesta instituição. Enxergamos esse projeto como uma oportunidade de alavancar o nível de segurança desses pacientes. Se conseguirmos reduzir ao menos em 50% essa incidência, já teremos grandes motivos para comemorar”, ressalta Paragó.

Fabricio Avini, CEO da Salux, complementa que além dos impactos na eficiência do tratamento, a escolha da medicação, bem como os erros relacionados a ela, leva a um desperdício de recursos e elevam os custos, questão crítica hoje na área da saúde, em especial em instituições públicas. “Além de gastar mais com paciente que fica mais tempo internado, o hospital deixa de gastar com outro que, muitas vezes, está em piores condições e precisando de rápido tratamento. Em um sistema afogado e crítico como o SUS, liberar o paciente em menor tempo, permite atender um número maior de pessoas. E isso é fantástico. Estou bastante entusiasmado, pois assim como todo mundo que trabalha com saúde, tenho a missão de ajudar a solucionar esse enorme desafio”.

A solução

Totalmente incorporado ao software de prescrição do PEP da Salux, o Medi-Span guarnece a equipe clínica com alertas automáticos entregues de forma eficiente dentro do fluxo de trabalho, permitindo assim uma triagem sofisticada, sensível ao contexto e com base em informações disponíveis no sistema sobre cada paciente. Por meio do cruzamento das referências – baseados em informações confiáveis e consistentes – e dados do histórico do paciente, a tecnologia ajuda os profissionais a tomarem decisões seguras.

“Cerca de 2,4 mil instituições ao redor do mundo fazem uso desta ferramenta de suporte a prescrição de medicamentos, mas no Brasil ainda existe um gap neste sentido. Este é o terceiro hospital brasileiro, o primeiro na esfera pública, a adotar essa solução. Portanto, esse projeto é também uma grande quebra de paradigma e uma importante mudança na forma de conduzir a saúde. E isso torna-se ainda mais impactante por tratar-se de uma instituição localizada em uma região carente e que atende crianças, portadoras de uma doença crônica. É emocionante fazer parte deste projeto e contribuir para uma melhoria da saúde desses pacientes e para a efetividade clínica dessas instituições”, explica Fabio Lia, diretor de alianças estratégicas para América Latina da Wolters Kluwer.

Com a integração Salux e Wolters Kluwer, será possível antecipar possíveis ocorrências, fazer avaliações e, na hipótese de considerarem que a terapia de medicação original tem o potencial de criar um evento adverso, sugerir uma alternativa mais plausível e um tratamento mais seguro. Além disso, ao automatizar o fluxo de trabalho, o papel da equipe de farmácia torna-se muito mais estratégico dentro do Hospital.