Por Claudia Gomes*
As mudanças regulatórias e a convergência com a legislação global, em um cenário amplamente competitivo, o aumento da pressão de investidores, somados ao ágil desenvolvimento tecnológico acabam por delinear um complexo ambiente para as organizações.
Além deste imenso desafio apresentado, as possíveis falhas de compliance das corporações podem gerar sérios riscos de danos à reputação e sanções financeiras significativas. Neste momento, as empresas brasileiras têm o desafio de enfrentar inúmeras modificações regulatórias e de negócios, o que está conferindo novas e rígidas exigências às áreas de Compliance das empresas.
Enfrentamos ainda uma conscientização da própria sociedade brasileira, que tem demonstrado cada vez mais o alinhamento com a ética e a conformidade com a legislação em âmbito global, algo que está em evidência diante de inúmeras notícias com casos de corrupção envolvendo representantes do espectro público e privado.
No universo corporativo, esta questão é ainda mais essencial para o sucesso das empresas, e pode até mesmo determinar a viabilidade de se operar no País. Muitas companhias tiveram de repensar a maneira pela qual estruturam suas áreas de Compliance e como tais práticas devem ser absorvidas por cada membro da organização como parte do DNA da companhia, e não somente nos Balanços Integrados.
Antecipar riscos e atender às exigências normativas em linha com a legislação local tornam o Compliance cada vez mais integrado aos objetivos estratégicos das empresas e coloca a área nos holofotes das táticas das organizações. Isso significa que os ambientes de negócios passaram a se preocupar mais com o controle interno de processos, regras e condutas com o objetivo de conferir transparência e credibilidade às suas operações. Isso passou a tornar-se um importante diferencial competitivo dado o cenário atual de descrédito de algumas organizações.
A área de Compliance dentro das empresas é responsável por organizar e oferecer diretrizes para processos e condutas. Ela ganhou maior relevância dentro das empresas brasileiras após a aprovação da lei Anticorrupção (12.846/2013), a resolução determina que as companhias de todos os portes tenham processos de ética bem definidos e sejam punidas caso venham a se envolver em atos de corrupção contra a administração pública.
A sanção desta legislação foi o precursor de um movimento que, após inúmeras operações policiais que investigam casos de crime empresarial, trouxeram grandes avanços regulatórios como a lei brasileira que detalha a colaboração premiada no combate às organizações criminosas (Lei 12.850/2013).
Diante deste cenário, é necessário que as companhias estejam preparadas, com processos transparentes e bem definidos, para que não sejam surpreendidas. É essencial ter em mente que os meios são tão importantes quantos os fins, ou seja, os métodos utilizados para alcançar bons resultados de negócios são tão importantes quanto os próprios resultados obtidos.
Mundialmente conhecido como o País do “jeitinho”, o Brasil está nos holofotes da imprensa internacional e é reconhecido por seu potencial para o improviso e para a criatividade. Este traço de personalidade pode, ao mesmo tempo, nos fazer sentir orgulho graças ao aspecto de resiliência que esta característica nos confere, como também nos traz vergonha, pois ao mesmo tempo que o jeitinho se refere a uma habilidade de resolução criativa de problemas, também carrega a conotação de obtenção de benefícios pessoais em detrimento da ética. Uma linha tênue que separa atitudes inovadoras de ilegais ou imorais.
Porém, um dos principais desafios apontados por líderes e executivos, de maneira geral, é demonstrar a efetividade da aplicação de um Programa de Compliance na cadeia de valor da empresa e o benefício que esta iniciativa traz para a corporação.
A Pesquisa Maturidade do Compliance no Brasil divulgada pela KPMG (assets.kpmg.com/content/dam/kpmg/br/pdf/2017/01/br-kpmg-pesquisa-maturidade-2a-edicao.pdf), realizada com 250 empresas de todo o Brasil no segundo semestre de 2016, aponta que apesar de ser fundamental identificar e monitorar os riscos de compliance para estabelecer um programa eficiente, apenas 58% das organizações afirmaram possuir mecanismos de gestão de riscos de compliance, enquanto que 42% informaram desconhecê-los. Além disso, 37% dos participantes afirmaram não possuírem mecanismos de gestão de deficiências e investigação.
Em uma conjuntura digital há ainda outro desafio: os membros da área de Compliance precisam estar aptos a auditar os ambientes virtuais e serem observadores mais aguçados de todas as mudanças tecnológicas que possam, de alguma maneira, afetar a empresa e com isso, traçar um perfil de risco envolvido.
Neste aspecto, a Internet das Coisas (IoT) representa um desafio novo às companhias e também uma oportunidade para que auditores e profissionais de Compliance auxiliem as organizações a terem acesso às informações chaves para o ajuste de processos e, com isso, acompanhem a disrupção tecnológica de maneira transparente, segura e tranquila. A consultoria IDC prevê que haverá 30 bilhões de coisas conectadas até 2020. Um desafio enorme para todos.
Inúmeras companhias têm apostado em tecnologias que facilitem o cumprimento de certas exigências e a tomada de decisão de líderes. Soluções que visem automatizar processos e oferecer ferramentas para tomada de decisões quase em tempo real, tais como novos canais online de Compliance gerenciados por empresas isentas, ajudam a melhorar a consistência dos controles de relatórios e oferecem ganhos em eficiência e resolutividade dos casos reportados.
Podemos ver que o Compliance não é mais uma opção e os benefícios de sua adoção são muitos, indo além das demandas da sociedade por mais transparência, reforçando o compromisso das empresas com a ética e transformando a forma de fazer negócios, ao fomentar um movimento responsável e contribuir para uma sociedade melhor.
*Claudia Gomes é Diretora Jurídica da Unisys para América Latina
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