Por Jacinto Carlos de Godoy*

De forma cíclica e recorrente, sempre estamos diante de alguma revolução. Novas maneiras de relacionamento com pessoas, famílias, empresas e governos são apresentadas, com a promessa de mudar tudo e nos colocar num patamar mais elevado do desenvolvimento humano e social. Algumas tecnologias recentes nos afastaram, mas já existe uma nova que promete nos reaproximar. Sim, estou falando de blockchain.
O blockchain se configura como uma rede ponto a ponto, em que os próprios usuários se encarregam de garantir a autenticidade de todas as transações ocorridas dentro de um contexto. A conversa é direta, ainda que por meio de algum dispositivo, com o detentor do bem, serviço ou direito do seu interesse.
Com o apoio de um processo de criptografia muito avançado, complexo e praticamente impossível de ser quebrado, o blockchain monta uma base de dados no formato de um livro fiscal, criando registros públicos permanentes, imutáveis e invioláveis com o devido controle de acesso. Como está distribuída, replicada em vários locais e por uma vasta rede de usuários, a tecnologia é tão disponível quanto a Internet.
Muitos grupos que usam o blockchain ainda guardam características de comunidades em razão do caráter revolucionário da tecnologia e de seu início disruptivo, principalmente no mercado financeiro, alavancado pela crise de confiança a partir de 2008. Contudo, as grandes corporações de tecnologia e especialmente as financeiras abraçaram fortemente a ideia e têm jogado luz sobre esse assunto, de forma a incrementar o potencial de adoção maciça em um espaço de tempo razoavelmente curto em se tratando de uma inovação com esse poder de transformação.
Os bancos, que inicialmente seriam os principais alvos da desintermediação gerada pelo blockchain, poderão se tornar os maiores beneficiados dessa tecnologia com a redução do custo das transações. Estudos patrocinados pelas maiores instituições financeiras do mundo demonstraram que a economia pode ultrapassar – e muito – a casa dos bilhões de dólares.
De um lado, existem aqueles que afirmam que o blockchain veio para mudar o mundo pela transformação no modo como as pessoas passaram a fazer negócios. De outro, grandes organizações vêm afirmando que a tecnologia é uma inovação incremental, ou seja, na maioria das vezes, não irá criar novos negócios, mas mudará a maneira como os já existentes são feitos.
A história recente mostra que as novidades baseadas em tecnologia, quando ganham escala global, acabam nas mãos de companhias multinacionais ou criam novos gigantes no mercado. Essa é a lei. A rigor, ninguém está longe do assunto. Além das ações relacionadas ao blockchain público, existem projetos globais para criação de iniciativas privadas, por meio de consórcios, destacando-se o Hyperledger, liderado pelas empresas de tecnologia, e o R3, de instituições financeiras. Este último conta com a participação de companhias brasileiras que, além das suas próprias iniciativas internas, têm projetos em andamento dentro dos consórcios. Vale dizer que Hyperledger e R3 trabalham de forma cooperada.
Se o uso intenso de blockchain ainda não é uma realidade no mercado em geral, já é um dos itens mais importantes na agenda de inovação das empresas que estão buscando a digitalização dos seus negócios e serviços. Todas as partes relevantes nesse contexto estão se manifestando na direção de viabilizar a adoção das soluções baseadas nessa tecnologia, porque, entre outras coisas, blockchain é uma nova forma de governança, que se sustenta por um modelo de confiança entre os participantes da rede, o que por si só já é uma grande mudança de paradigma.
Então, ainda que não seja o único, o blockchain é sim um dos assuntos que precisam ser tratados hoje. Será impossível ficar de fora dessa tendência. O mercado financeiro, especialmente o brasileiro, que é muito regulado, poderá demorar um pouco mais para aderir em larga escala, mas o grau de atratividade é muito alto. Vale ressaltar que essa tecnologia será usada inicialmente no formato privado e futuramente expandida para uma rede pública. Tudo no seu devido tempo.
Para as aplicações em geral, principalmente as que envolvem serviços, a adoção deverá ser gradativa, porém rápida, com novidades a cada instante, tão ou mais acelerada que o surgimento e a proliferação dos aplicativos móveis. Os contratos inteligentes, baseados em blockchain, associados a soluções de IoT, poderão provocar a revolução e nos levar a um mundo ainda mais moderno, com atendimento muito mais ágil, assertivo e seguro.
*Jacinto Carlos de Godoy é Gerente de Operações da Resource