John Chambers*
O Brasil está em transição. Há apenas alguns anos, o país cortou pela metade a taxa de pobreza e elevou mais de 40 milhões de pessoas à classe média (1). No entanto, o país passa por um momento de importante inflexão econômica. A digitalização – processo pelo qual a tecnologia transforma a sociedade, empresas e governos – pode ser a grande arma para retomar à posição de potência emergente, além de melhorar a vida da população.
O uso da tecnologia está ascendendo – o IDC prevê que o mercado brasileiro de TI e Telecom crescerá 5% em 2015 –, mas o ritmo ainda é baixo (2) comparado a países de porte semelhante. Para aproveitar as vantagens do uso da tecnologia, os setores público e privado precisam intensificar esforços na expansão da infraestrutura de banda larga e tecnologia da informação e comunicação (TIC). A Internet gerou tremenda oportunidade global nos últimos 20 anos e entramos agora na próxima fase: a Internet de Todas as Coisas (IoE) – que é a conexão entre pessoas, coisas, processos e dados – que será ainda mais poderosa. Para o Brasil, prevemos que a IoE gere US$ 352 bilhões nos setores público e privado na próxima década (3). Para isso, a tecnologia deve ser uma ferramenta estratégica e o país precisa contar com uma ampla infraestrutura de TIC.
Esta infraestrutura permitirá ao País fazer uma ampla gestão digital. Um exemplo é o que vem ocorrendo no Rio de Janeiro que, ao preparar-se para as Olimpíadas de 2016, está construindo uma estrutura tecnológica para posicionar o Rio como cidade inteligente, conectada e inovadora. O impacto permanecerá após o evento. Ao instalar sensores de rede que coletam dados, por exemplo, pode-se reduzir congestionamento, poluição e desperdício de energia.
A digitalização também influencia o setor de saúde. Em um país tão extenso, uma parcela significativa população mora em regiões onde o acesso à assistência médica é limitado. A Telemedicina ajuda a minimizar esse desafio ao conectar clínicas locais a hospitais e especialistas à distância, como ocorre no programa “Connected Healthy Children”, da Universidade Federal de Sergipe. Se o modelo for replicado, o Brasil se tornará uma referência latino-americana em assistência médica infantil.
Investimentos em ecossistemas de inovação local também são essenciais para o crescimento. Mudar o foco para fomentar a criação de novas empresas ligadas à transformação digital ajudará a acelerar a recuperação, fornecendo a base para o futuro e gerando empregos.
Além de criar empregos no setor, o Brasil tem que investir em capacitação. Mesmo com a taxa de desemprego a 6,7% (4), a demanda por profissionais de rede no país movimentará 360 mil vagas neste ano, segundo o IDC. Parcerias público-privadas como as Networking Academies podem ajudar a preencher a lacuna. O programa já capacitou cerca de 155 mil estudantes no Brasil, e esse é apenas o começo. A ideia é chegar a 50 mil alunos anualmente até 2017.
Com os holofotes apontados para o Brasil, há um sentimento nacional de urgência. A digitalização é a chave para o sucesso. Os líderes têm a oportunidade de definir uma agenda tecnológica ousada, liderar projetos de digitalização e fomentar o crescimento econômico. Estamos apostando no Brasil e em nossa parceria promissora.
*John Chambers foi CEO da Cisco durante 20 anos. Sob seu comando, a empresa cresceu de 1.2 bilhão de dólares em receita anual para os atuais 48 bilhões de dólares. Em julho, Chambers passou o bastão para Chuck Robbins e assumiu o papel de Presidente Executivo da Cisco, à frente do Conselho Administrativo da companhia.
(1) http://www.mckinsey.com/~/media/McKinsey/dotcom/Insights/South%20America/Brazils%20path%20to%20inclusive%20growth/MGI_Connecting_Brazil_to_the_world_Executive_summary_May%202014.ashx
(2) http://www.zdnet.com/article/brazilian-ict-market-to-grow-5-percent-in-2015/
(3) Cisco IoE Value at Stake for Brazil PPT
(4) http://saladeimprensa.ibge.gov.br/en/noticias?view=noticia&id=1&busca=1&idnoticia=2922
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