Ana Claudia Plihal*
O mês de março é sempre um momento de reflexão sobre a desigualdade de gênero no mercado de trabalho. A discussão é global e não foi à toa que a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu metas para todos os países membros se esforçarem na redução da diferença existente entre cargos e salários de homens e mulheres.
No Brasil a situação não é diferente, embora o número de mulheres com escolaridade superior seja maior – e que elas representem mais de 50% da população –, a disparidade entre os gêneros em questões trabalhistas ainda é enorme e as oportunidades para as mulheres, menores. Existe uma evolução, mas ainda muito lenta: dados do IBGE apontam um leve crescimento da participação da mulher no mercado de trabalho no país. Em 2000, 50,1% da população feminina tinha uma ocupação, enquanto o número de homens empregados equivalia a 79,7%. Em 2010, essa proporção passou, respectivamente, para 54,6% e 75,7%.
No mercado de Tecnologia da Informação e Comunicações (TIC), cujo perfil histórico de mão de obra é predominantemente masculino – mesmo sendo uma área relativamente nova se comparada à engenharia, arquitetura, medicina –, a história se repete. Embora seja um segmento em expansão, com constante demanda por profissionais qualificados, esse dinamismo não garante as mesmas oportunidades a homens e mulheres. A própria visão de que esse é um segmento masculino torna as profissões relativas menos atraentes a mulheres. Nas universidades brasileiras, a frequência feminina em cursos como Engenharia e Ciências da Computação, apesar de ter aumentado ao longo dos anos, ainda gira em torno de 10% (MEC).
Para reverter essa situação é preciso que as diferentes esferas da sociedade atuem em conjunto, encorajando as mulheres a assumirem novos papéis. É preciso quebrar tabus, enfim, oferecer oportunidades para estas profissionais. É preciso que tenhamos a mesma remuneração e oportunidades dadas aos homens. Com isso, todos ganhariam, pois em um ambiente de trabalho diversificado e equilibrado, a atmosfera é mais positiva e inspiradora para os colaboradores, os clientes e para as redes de contato.
As mulheres, por sua vez, têm que investir na educação e lutar pelo tratamento igualitário no mercado de trabalho. A independência sempre pode trazer um desequilíbrio em outras áreas que geralmente também são de sua responsabilidade – cuidar da casa, filhos, marido, etc. Mas, aprender a delegar também faz parte do crescimento pessoal e profissional. Manter-se atualizada, com uma rede de contatos ativa, investir na carreira para transformar o ambiente de trabalho e promover ainda mais a aceitação da mulher no segmento é absolutamente importante para que se mude o cenário atual.
Algumas empresas já promovem a inclusão da mão de obra feminina em seu quadro de funcionários e, principalmente, em cargos de alto escalão, criando uma atmosfera transparente, colaborativa, saudável, e igualitária, na qual todos se sintam bem-vindos, valorizados, respeitados e ouvidos. Um exemplo é a Cisco. Aproximadamente 30% de seus colaboradores globais são mulheres. Entre as práticas de incentivo, a empresa realiza o Women of Impact, evento que ocorre simultaneamente em mais de 20 escritórios ao redor do mundo. O objetivo é conectar, desenvolver e inspirar as colaboradoras a ouvir e compartilhar experiências de sucesso profissional com outras executivas, clientes e parceiras.
Não é à toa que, neste ano, a discussão girou em torno da coragem, superação, desafios. Vencer em um mercado de trabalho claramente masculino é uma missão complexa e que passa por profissionais de todas as áreas e níveis de uma empresa. A imagem da mulher submissa passa longe do mercado de trabalho, e cabe a nós mantê-la sempre distante. Temos, ao contrário, que tirar proveito de qualidades que são constantemente atribuídas a nós: flexibilidade, sensibilidade, e habilidade para ouvir são algumas delas. Conquistar o espaço com qualidade e segurança é contribuir com a formação de um ambiente equilibrado e justo, onde o que está à prova não é o fato de sermos homens ou mulheres, mas o de sermos profissionais cobrados apenas pela nossa competência, e não pelo gênero a que pertencemos.
*Ana Claudia Plihal, diretora de Comercial da Cisco do Brasil
Comments