Chris Delvizis*

Cada nova geração de engenheiros tem convivido com uma nova geração de instrumentos. Os Baby Boomers (nascidos nas décadas de 40 a 60) usavam osciloscópios com tubos de raios catódicos e multímetros com mostradores de ponteiros, agora conhecidos como instrumentos “analógicos”. A Geração X (dos nascidos nos anos 60 a 80) iniciou o uso de uma nova geração de instrumentos “digitais”, que utilizavam conversores analógico-digitais e mostradores gráficos. A Geração Y agora entra no mercado de trabalho com uma nova maneira de pensar, que dará forma à próxima geração de instrumentos.

A Geração Y cresceu em um mundo cercado pela tecnologia. Dos computadores à Internet e agora aos dispositivos móveis, essa tecnologia tem sido desenvolvida com uma rapidez nunca vista anteriormente. Um relatório recente da Cisco apresentou um estudo detalhado sobre a natureza da Geração Y e seu relacionamento com a tecnologia:

> Smartphones são duas vezes mais populares que os PCs desktop
> 1/3 dos respondentes checam seus smartphones pelo menos a cada 30 minutos
> 80% usam pelo menos um aplicativo regularmente
> Dois em três gastam o mesmo tempo ou um tempo maior on-line com os amigos do que pessoalmente

A Geração Y é obcecada pela tecnologia. Eles aceitam totalmente as mudanças e se adaptam rapidamente às novas tecnologias porque entendem os benefícios que elas podem oferecer. A inovação nos aparelhos eletrônicos de consumo que os engenheiros da Geração Y utilizam em seu dia-a-dia deixou para trás a tecnologia dos instrumentos que eles utilizam em seus contextos profissionais. Na verdade, o formato dos instrumentos de bancada permaneceu, de forma geral, inalterado ao longo dos anos. Nesse formato, todos os componentes – tela, processadores, memórias, sistema de medição e controles/botões – são integrados em um único dispositivo.

A era atual da instrumentação está chegando à sua maturidade, e agora os engenheiros da Geração Y exigirão que as novas tecnologias sejam incorporadas aos seus instrumentos. A instrumentação na era da Geração Y irá incorporar telas de toque, dispositivos móveis, conectividade à nuvem e inteligência preditiva, para oferecer vantagens significativas com relação às gerações anteriores.

Telas de toque

De acordo com a Frost & Sullivan, “os engenheiros irão cada vez mais associar o conceito de “interface de usuário“ às interfaces que eles utilizam em seus aparelhos eletrônicos de consumo”. As interfaces de usuário baseadas nas telas de toque encontradas nos dispositivos móveis atuais oferecem uma experiência drasticamente diferente daquela obtida com os controles e botões dos instrumentos atuais, que serão insatisfatórios para a Geração Y.

Sempre que um instrumento incorpora algum recurso novo, ele tem de ter novos controles e botões. Entretanto, essa abordagem não é dimensionalmente viável. Em algum ponto, o número de controles e botões trará ineficiência e confusão. Alguns instrumentos já recorreram a sistemas de menus de várias camadas e “botões de software” para diferentes ações, mas a complexidade desses sistemas criou outros problemas de usabilidade. A maior parte dos
engenheiros da Geração Y descreveria os instrumentos atuais como “desajeitados”.

Um instrumento que se livre totalmente dos controles e botões físicos, trocando-os por uma tela de toque para a interface com o usuário, poderia resolver esses desafios. Em vez de apresentar todos os controles de uma vez, a tela de toque poderia simplificar

a interface, apresentando dinamicamente apenas as informações e controles relevantes à tarefa executada no momento. Os usuários poderiam também interagir diretamente com os dados na tela, em vez de com um controle ou botão distante dela. Eles podem usar interações baseadas em gestos, como esticar diretamente com os dedos um gráfico de osciloscópio na tela em vez de mudar o valor de tempo/divisão ou volts/divisão. Interfaces baseadas em telas de toque oferecem um substituto mais eficiente e intuitivo para controles e botões físicos.

O poder da mobilidade

Aproveitando os recursos de hardware oferecidos pelos dispositivos móveis, os instrumentos podem aproveitar as vantagens dos melhores componentes e das tecnologias mais recentes. Com essa abordagem, eles teriam uma aparência muito diferente daquela dos instrumentos atuais. O processamento e a interface de usuário seriam tratados por um aplicativo executado no dispositivo móvel. Dispensando controles, botões e mostradores físicos, o hardware do
instrumento seria reduzido somente aos sistemas de medição e temporização, com menores dimensões e custo. Os usuários não seriam limitados por telas minúsculas, pequeno espaço de armazenamento e operação lenta. Em vez disso, eles poderiam aproveitar as vantagens de telas amplas de alta resolução, gigabytes de armazenamento de dados e processadores multicore.

Câmeras, microfones e acelerômetros integrados poderiam facilitar o uso de novas possibilidades, como a inclusão da captura de imagens de uma montagem de teste ou do registro de anotações de áudio aos dados. Os usuários poderiam até mesmo desenvolver seus próprios aplicativos, para atender suas necessidades específicas.

Embora seja totalmente possível para os instrumentos tradicionais integrarem componentes melhores, o ritmo no qual isso pode ser feito os coloca muito atrás dos dispositivos móveis. A eletrônica de consumo tem ciclos de inovação mais rápidos e maiores economias de escala; dessa forma, a instrumentação que aproveitar esses aparelhos eletrônicos sempre terá as melhores tecnologias a custos mais baixos.

Conexão à nuvem

Os engenheiros geralmente transferem dados entre seus instrumentos e computadores usando drives USB ou um software que baixa dados por um cabo Ethernet ou USB. Esse processo é razoavelmente trivial, mas a Geração Y espera ter acesso instantâneo aos dados, com tecnologias de nuvem. Serviços como o Dropbox e o iCloud armazenam documentos na nuvem
e os sincronizam automaticamente em todos dispositivos. Em combinação com Wi-Fi e redes celulares, que mantêm os usuários continuamente conectados, eles podem acessar e editar seus documentos a qualquer momento e em qualquer lugar. Além de apenas armazenar os arquivos na nuvem, alguns serviços hospedam aplicações completas na nuvem. Com serviços como o Google Docs, os usuários podem trabalhar remotamente de forma colaborativa e, ao
mesmo tempo, editar documentos em qualquer lugar.

Uma instrumentação com conectividade de rede e nuvem pode oferecer esses mesmos benefícios aos engenheiros. Os dados e a interface de usuário podem ser acessados por diversos engenheiros localizados em qualquer parte do mundo. Quando estiverem resolvendo um problema de fora da empresa, em vez de receber apenas uma imagem de tela estática, os
engenheiros poderão interagir com o instrumento em tempo real para melhor compreender o problema. As tecnologias de nuvem podem melhorar em muito a eficiência e a produtividade de uma equipe de engenharia.

Inteligência

A computação sensível ao contexto é uma nova tecnologia que pode mudar fundamentalmente a maneira pela qual interagimos com os dispositivos. Essa tecnologia usa informações situacionais e ambientais para antecipar as necessidades dos usuários e oferecer conteúdo, recursos e experiências sensíveis à situação. Um exemplo popular disso é o Siri, um recurso dos dispositivos recentes que utilizam o iOS da Apple. Os usuários podem dar ordens ou fazer
perguntas ao Siri, que responde executando ações ou oferecendo recomendações.

O Google Now oferece funções similares às do Siri, mas também fornece informações que “pensa” serem desejadas pelo usuário, com base em dados de busca e localização geográfica: informações sobre o tempo e recomendações sobre o tráfego são recebidas nas manhãs; lembretes de reunião são mostrados com o tempo estimado de chegada ao local, e informações de voo e cartões de embarque são obtidos automaticamente.

Uma inteligência similar poderia mudar o jogo, se aplicada à instrumentação. Um desafio comum enfrentado pelos engenheiros é fazer mudanças nos ajustes de um instrumento enquanto estão com as mãos ocupadas com as pontas de prova. O controle de voz poderia não apenas oferecer interação sem as mãos, mas também uma interação mais fácil com os recursos. Além disso, a inteligência preditiva poderia ser usada para destacar dados relevantes ou interessantes.

Um osciloscópio poderia alterar sua configuração e fazer zoom automaticamente quando encontrasse uma parte interessante de um sinal, ou executar outras medições relevantes, com base no formato do sinal. Um instrumento que aproveita os recursos dos dispositivos móveis pode integrar e obter as vantagens da computação sensível ao contexto à medida que essa tecnologia está sendo desenvolvida.

As fronteiras da Geração Y

A tecnologia nos dispositivos eletrônicos de consumo está sendo desenvolvida rapidamente, influenciando as expectativas da Geração Y. Com o número cada vez maior de engenheiros da Geração Y entrando no mercado de trabalho, é apenas uma questão de tempo para que suas expectativas sejam introduzidas na instrumentação que eles utilizam em seu trabalho. Essas tecnologias desenvolvidas oferecerão benefícios significativos não apenas à instrumentação: um
engenheiro tecnicamente apto da Geração Y irá aproveitar esses benefícios para resolver desafios da engenharia com uma rapidez muito maior do que imaginado possível pelas gerações anteriores.

*Chris Delvizis é Gerente de Produto da National Instruments