Marcus Granadeiro*

Tive a honra de participar do debate “Momento Político Atual: Impacto no Seu Negócio”, realizado pela Câmara Americana de Comércio (AMCHAM). Pontos de vista e colocações muito pertinentes foram expostas.

Mas, uma delas, em especial, me levou a refletir. O empresário e engenheiro Pedro Wongtschowski ponderou que o recado das ruas, dado durante as intensas manifestações públicas que se iniciaram em junho deste ano, não foi apenas para o poder público, pois não é exclusivo dele a prestação de serviços públicos. Há uma demanda generalizada por eficiência na aplicação dos recursos e na qualidade do serviço prestado.

Muito já foi escrito e mostrado sobre a tecnologia BIM. Sabemos que com ela consegue-se modelar virtualmente uma obra, simular seu comportamento físico, prever todas as intercorrências e interferências. Com o modelo tridimensional podemos acompanhar a execução do planejamento da obra através da visualização da construção associada a um cronograma (4D) e, até mesmo, planejar o desembolso de recursos frente à execução do planejamento (5D).

O empreendimento não está solto, sozinho no mundo. Ele está dentro de um contexto da cidade, do ambiente. Com modelos e tecnologia de geoprocessamento (GIS) consegue-se visualizar e entender toda uma rede de relacionamentos, emular impactos, cadastrar e localizar geograficamente todas os elementos de instalações de uma cidade como dutos, adutoras, cabos, fundações e galerias, chegando, até mesmo, na integração de informações ambientais e sociais, sejam as atuais ou as projetadas, aos mapas, cruzando os dados através de ferramentas matemáticas. Não existe desculpa para falta de informações ou levantamentos, pois há uma miríade de recursos e tecnologias de sensoriamento remoto à disposição.

Temos assim, um cenário ideal: tecnologia e conhecimento suficientes para modelar uma obra completa, simulá-la, planejá-la, integrá-la ao ambiente, enfim, para resolver todas as questões e as dúvidas antes de pensar em contratar a obra, garantindo riscos mínimos para problemas na obra e para imprevistos relativos aos eventuais impactos dela em seu meio.

Menor risco significa menor custo. Melhor projeto, melhor obra, melhor serviço. Melhor planejamento, melhor controle, mais transparência. E por que isto não é feito? Por que se contrata uma obra com tão pouca informação e com projetos tão pobres e sem detalhes? Por que se licita obras com os mesmos documentos e informações que se licitava nos anos 70? Existe alguma lei queproíba tal mudança e atualização dos processos? Por que, mesmo nos projetoscompletamente privados, não se exaurem os modelos virtuais antes de partir para o gasto de obra?

Fazer o projeto, fazer simulações, fazer tudo virtualmente, esgotar tudo o que há de tecnologia antes de pensar em colocar dinheiro em obra, em mobilizar equipes, canteiros, em fazer editais para empreiteiras. Esta é a mudança que deveria ser feita, e que muito ajudaria o Brasil e que, com certeza, seria a melhor contribuição da Engenharia ao nosso País.

Outra colocação muito interessante, que pode ser colocada dentro deste contexto e que fecha perfeitamente este raciocínio, foi feita pelo ex-ministro Delfim Netto: “O máximo que o Governo pode fazer é discurso, mas quem tem que trabalhar é o setor privado”.

*Marcus Granadeiro é presidente da Construtivo.com, empresa de fornecimento de solução para gestão e processos de ponta a ponta para o mercado de engenharia, com oferta 100% na nuvem e na modalidade de serviço (SaaS)